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sábado, 16 de maio de 2015

O vazio existencial do homem contemporâneo - Via e-mail

O vazio existencial do homem contemporâneo

by Professor
Por Michel Aires de Souza
pascalQue sentido, que valor imprimimos a nossa ação? Somos seres incapazes de contemplar ou tomar conhecimento do que cotidianamente fazemos de nossas vidas. Por que fazemos o que fazemos?  Por que levamos a vida que levamos?   Ora queremos um novo emprego; ora queremos um novo amor; ora queremos um novo carro, ora queremos uma nova casa. Os homens sempre estão em busca de dinheiro, poder, notoriedade ou divertimentos. Logo que realizam um desejo surge outro desejo. Nunca estão satisfeitos. Passam a vida buscando bens materiais ou bens simbólicos. São eternamente inquietos e insatisfeitos. São governados por um querer cego e irracional.    Numa primeira análise somos levados a crer que o único objetivo da vida dos homens é destruir sua própria solidão. Eles não conseguem ficar sozinhos, precisam sempre de agitação. Estão sempre em busca de algo.  Envolvem-se em tarefas arriscadas e difíceis; envolvem-se em projetos, conflitos ou conquista que, muitas vezes, lhes trazem infelicidade. Não suportam o silêncio ou estar consigo mesmo. Precisam do barulho, do ruído e da agitação. São incapazes de desligar a televisão ou o rádio quando estão sozinhos em casa. Fogem da solidão como o Diabo foge da cruz. Pascal no século XVII já havia pensado sobre esse problema. Para ele as pessoas são agitadas, pois não conseguem ficar consigo mesmas, são incapazes de refletirem sobre sua condição miserável e mortal. Não querem refletir sobre sua condição humana, permeada pela dor, dissolução e morte, nada os pode consolar.
          Como sugeriu Platão, o nosso espírito é uma caverna, o que falta ao homem é eternidade.  Os indivíduos são seres vazios. Vivem na busca de preencher seu mundo interior com algum entretenimento ou com algum objeto.  Todo seu sentido interno se expressa pelo sensível e pelo concreto. Buscam preencher sua interioridade com bens materiais ou bens simbólicos. O sistema capitalista serviu muito bem a esse propósito. Esse sistema ofereceu ao homem um mundo de entretenimentos, prazeres e objetos para que ele possa preencher seu vazio interior. É por isso que o capitalismo sobreviveu, é por isso que ele se perpetuou. Ele impediu que o homem encarasse o vazio descomunal de sua interioridade.
            Mas por que o homem temeria tanto olhar para o seu vazio interior? Por que ele foge de si mesmo?  O que homem teme é o eterno que existe nele. Esse vazio que ele experimenta é o Nada.  As pessoas não querem se dar conta que o Nada está inscrito em nossa própria carne e em nossa própria alma. O Nada surge diante do homem aniquilando todas as coisas que os rodeiam e aniquilando o próprio EU.  É o Nada que retira todo o sentido da vida. Somos seres para a morte. A descoberta do Nada da existência humana levaria o homem a reconhecer que a existência é um acidente, é algo casual e efêmero, e que o manhã não poderá mais existir. O homem recusa a encarar a verdade. Já dizia Sócrates, conheça-te a ti mesmo.  O conhecimento de si mesmo implica em reconhecermos a nossa finitude.  É o Nada, que está em nosso interior e que não somos capazes de encarar, que nos aniquilará.   O que falta ao homem é consciência de sua facticidade.  Estamos lançados no mundo como um barco sem rumo. A imanência nas coisas nos tira a consciência de nossa condição finita e nos condena a banalidade da vida cotidiana. É somente a consciência de nossa condição finita, é somente a consciência do Nada, que nos permite transcender e reavaliarmos nossa própria vida e comportamento, dando sentido e significados eles.
               Vivemos numa época de incerteza, de insegurança e de superficialidade. Temos dificuldade em entender nossa própria experiência social e não conseguimos nos dar conta da relação que há entre nossas vidas e as forças que nos subjulgam. Não percebemos que nossos dramas, conflitos, medos, frustrações são em grande parte causados pelos valores de nossa sociedade ou pelas estruturas sociais que nos governam. Por causa disso, não temos uma experiência bem definida das nossas próprias necessidades, não sabemos o que sentimos ou o que verdadeiramente queremos.  Todos os dias os indivíduos acordam cedo, vão para o trabalho, almoçam com os mesmos colegas, compartilham as mesmas experiências. Quando voltam do trabalho para casa, conversam sobre os mesmos assuntos, fazem as mesmas atividades e assistem aos mesmos programas de televisão. Aos finais de semana buscam as mesmas agitações e divertimentos.  Eles são incapazes de perceber que possuem uma vida fragmentada, muitas vezes degradada pelo cotidiano da labuta, das transformações econômicas e do consumo.  Estão sempre em movimento, em busca de um objetivo ou desejo insuflado pela sociedade. Apegam-se a verdades, valores ou regras externas, que não escolheram conscientemente. Como se o mundo tivesse um sentido ou um significado dado apriori. São seres despersonalizados pela cultura. Seguem padrões. Vivem numa Matrix, incapazes de separar a consciência da realidade. São incapazes de contemplar seu mundo interior. São incapazes de reconhecer o Nada e darem sentido a suas próprias vidas. Como diz Montaigne “meditar sobre a finitude é meditar sobre a liberdade”.

Professor | 04/10/2014 às 22:00 | Categorias: Filosofia | URL: http://wp.me/p7uL0-WI

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